EB 2,3 Infante D. Fernando - Biblioteca

08/10/2021

O conto de fadas literário

 

"O conto de fadas (literário) surgiu na Europa da Idade Moderna como tradição oral levada ao público infantil. As histórias eram contadas de um adulto para uma criança, registando lições, experiências, em que geralmente os heróis superavam situações desfavoráveis através de algum segredo mágico. Por se tratar de narrações fictícias, as acções dos contos de fadas desenrolam-se em países imaginários, povoados por objectos e personagens mágicos e estranhos, onde o narrador e o seu público não acreditam na realidade da história.


Cinderela, Hanns Acker (1910)


A grande aceitação do conto de fadas teve, pelo menos, duas consequências importantes sobre a evolução da literatura infantil. Em primeiro lugar, impôs o predomínio do lúdico sobre o instrutivo. Em segundo, contribuiu para a definição de um género especificamente voltado para as crianças.

Pessoas de diferentes idades conhecem e encantam-se com os contos de fadas. Plenos de significados, com estrutura simples, histórias claras e personagens bem definidas nas suas características pessoais (facilitando a identificação delas em bom ou mau, bonito ou feio, forte ou fraco, rico ou pobre, etc.), atingem a mente da criança, entretendo-a e estimulando a sua imaginação, como nenhum outro tipo de literatura talvez seja capaz de fazer. As crianças gostam muito dos contos de fadas, recomendados geralmente a partir dos 4 ou 5 anos.

Embora distantes das narrativas originais, os contos de fadas continuam vivos, povoando a imaginação infantil e alimentando o seu espírito. Ao mesmo tempo que os contos podem auxiliar a criança a superar conflitos, que são inerentes ao seu processo de desenvolvimento, constroem um sistema metafórico e simbólico. Através do tempo, os contos de fadas mantêm o seu poder transformador e a sua magia.

Um dos prazeres do conto é precisamente a eliminação das fronteiras entre o (mundo) possível e o (mundo) impossível, entre o real e o imaginário. Guiados pela mágica expressão inicial: «Era uma vez...»; crianças e adultos soltam as amarras para embarcarem, de imediato, no imaginário, numa aventura simbólica na companhia de muitas personagens que, embora sejam da ficção, parecem familiares. Tal como acontece com as crianças, as personagens vivem grandes emoções que podem ser compartilhadas. Parafraseando Bettelheim, a criança compreende intuitivamente que sendo irreais, estas histórias são verdadeiras; os feitos que narram não existem na realidade, mas estão presentes como experiência interior.

As crianças entram ainda muito facilmente nesse mundo imaginário, onde já têm um pé, porque todos os dias inventam histórias extraordinárias nas quais elas próprias são os heróis. Fazem falar os objectos, os animais, os brinquedos, etc. Para as crianças, nada é estranho, tudo é lógico. Mais ainda: tudo as fascina."


"A sabedoria dos contos de fadas", Armindo Teixeira Mesquita

 Presidente do OBLIJ (Observatório da Literatura Infanto-Juvenil)