EB 2,3 Infante D. Fernando - Biblioteca

20/11/2012

Personalidade do Mês - Aristides de Sousa Mendes

“era verdadeiramente a minha intenção salvar toda aquela gente"


 "Aristides de Sousa Mendes foi um Diplomata português que durante a II Guerra Mundial, salvou mais de 30.000 vidas da perseguição Nazi, em 1940, no que é considerado como a maior acção de salvamento empreendida por uma pessoa individual.    

Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches nasceu a 19 de Julho de 1885, em Cabanas de Viriato (Carregal do Sal), localidade situada a cerca de 30km a sul de Viseu. Pertencia a uma família aristocrática e católica da Beira-Alta. Aristides cursou Direito na Universidade de Coimbra, juntamente com seu irmão César, tendo sido um dos seis melhores estudantes do seu curso. Depois de se licenciar, em 1907, com 22 anos, fez o estágio de advocacia, tendo defendido alguns casos no início da sua carreira.

Em 1910, ainda durante a monarquia, Aristides e César ingressaram na Carreira Diplomática. Aristides exerceu funções como Cônsul de Carreira na Guiana Britânica, em Zanzibar, no Brasil (Curitiba e Porto Alegre), nos Estados Unidos, (San Francisco e Boston), em Espanha (Vigo), no Luxemburgo, na Bélgica e, finalmente, em França (Bordéus).

Casado com sua prima direita Maria Angelina, em 2009, a família de Aristides de Sousa Mendes foi crescendo a par da sua carreira diplomática. Assim, quatro dos seus filhos nasceram em Zanzibar, dois no Brasil, dois nos Estados Unidos, um em Espanha, dois na Bélgica e três, perfazendo o total de 14, em Portugal.
Valorizando a presença da família, Aristides de Sousa Mendes optou por nunca dela se separar, assegurando a educação dos seus filhos, em todos os países por onde passou.


A vida de Aristides assume uma dimensão inesperada em 1940, em Bordéus, França, um posto que, do ponto de vista da Carreira Consular, não lhe trazia nada de novo. Aristides vai para Bordéus, em Agosto de 1938, contrariado, não entendendo por que razão Salazar o não promove para um posto no Extremo Oriente, como ele tinha pedido.


A II Guerra Mundial, Aristídes de Sousa Mendes e Anne Frank
Em Setembro de 1939, começa a Segunda Guerra Mundial, e logo em Novembro desse ano, Salazar, de forma clara, alinha-se ao lado do mais forte, Hitler, para poupar certamente Portugal a uma hipotética invasão nazi. Esse alinhamento traduziu-se pela promulgação da Circular 14, através da qual Salazar proíbe a concessão de vistos a judeus, apátridas e outros “indesejados”. Na prática, nenhum diplomata português estava autorizado a passar vistos de entrada, em Portugal, a judeus.


No início de 1940, Aristides é formalmente avisado por Salazar para não conceder mais vistos a judeus, pois “se o fizer, ficará sujeito a procedimento disciplinar”. Paris, entretanto, cai ante o avanço das tropas nazis, a 14 de Junho, e, no dia seguinte, Bordéus fica submergida de refugiados. É o salve-se quem puder! Bordéus, uma cidade de 200.000 pessoas, passa a ter um milhão! É o pânico generalizado…”dir-se-ia o fim do mundo”, como escreveu, trinta anos mais tarde, nas suas “Memórias”, Pedro Teotónio Pereira, principal acusador do Cônsul.

Tocado pelo drama humano que se desenrolou à sua volta, Aristides decide ignorar as ordens e começa a passar vistos a quantos lho solicitassem, de dia e de noite, até à exaustão.

O historiador Yehuda Bauer, no seu livro “A History of the Holocaust”, escreve: “o Cônsul português em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes, concede vistos de trânsito a milhares de judeus refugiados, em transgressão das regras do seu governo. Talvez a maior acção de salvamento feita por uma só pessoa durante o holocausto”.

"Aristides a carimbar os passaportes", desenho da Daniela

A 19 de Junho, Aristides segue para o Consulado em Bayonne, onde continua a maratona de concessão de vistos, na própria rua, uma vez que as escadas do edifício poderiam não suportar o peso de tão grande fila de espera. Vai depois para Hendaye/Irun e continua de um lado para o outro, salvando pessoas nas estradas do sul de França, nas estações de caminhos-de-ferro, conduzindo mesmo um grupo de refugiados através dos Pirenéus, a pé e de automóvel.



Segundo os registos da polícia política PVDE, que a partir de 1945 se transformara na PIDE, entraram em Portugal, só nos dias 17, 18 e 19 de Junho de 1940, cerca de 18 000 pessoas com vistos assinados pelo “Cônsul desobediente”. "Os guardas da fronteira de Vilar Formoso não se lembram de ter visto tanto movimento." O Alto Comissariado para os Refugiados da Sociedade das Nações calculou que nesse verão terão entrado, em Portugal, mais de 40 000 refugiados. Esse número é confirmado pela organização judaica “Joint”. Na sua casa em Cabanas de Viriato, Aristides recebeu dezenas de refugiados, sobretudo no Verão de 1940.

A 23 de Junho de 1940, Salazar determina o seu afastamento do cargo, e envia o Embaixador Teotónio Pereira. Em Portugal, Sousa Mendes solicita, em vão, uma audiência a Oliveira Salazar, mas este Salazar determina, a 4 de Julho, a abertura de um processo disciplinar ao diplomata que é instaurado a 1 de Agosto de 1940.

Como consequência, Aristides de Sousa Mendes é afastado da Carreira Diplomática e afastado de qualquer actividade profissional, sendo ostracizado pelos seus pares, familiares e amigos. Os filhos, perseguidos e não podendo encontrar trabalho em Portugal, são obrigados a emigrar.

Elabora a sua própria defesa, argumentando que agiu em defesa dos valores éticos e humanitários e solicita por diversas vezes uma audiência a Salazar, que nunca o recebe e se mantem implacável na sua decisão.
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A Casa do Passal, em Cabanas de Viriato,onde o cônsul português habitualmente passava as suas férias em família e que se encontra atualmente em ruína eminemte.
 Entre 1940 e 1954, Aristides entra num processo de “decadência”, perdendo, mesmo, a titularidade do seu gesto salvadorpois, Salazar apropria-se desse acto. Através da propaganda do Estado Novo, os jornais do regime louvam Salazar: “Portugal sempre foi um país cristão” é o título de um Editorial do Diário de Notícias do mês de Agosto de 1940, em que Salazar é louvado por ter salvo refugiados no Sul de França. Até Teotónio Pereira, reclama, nas suas “Memórias”, a acção de Aristides de Sousa Mendes como sendo de sua autoria! O cônsul morre a 3 de Abril de 1954.

Finalmente, em Maio 1987, o Presidente Mário Soares confere-lhe a titulo póstumo, a Ordem da Liberdade, que entrega á sua filha Joana na Embaixada de Portugal, em Washington, na presença de numerosos descendentes e representantes das comunidades judaicas e portuguesas. Poucos dias depois, Aristides de Sousa Mendes é homenageado pelas comunidades portuguesas e judaicais em Newark, New Jersey.

Em 1989, a Assembleia da República finalmente reparou a grave injustiça que lhe fora cometida, reeintegrando Aristides de Sousa Mendes no serviço diplomático por unanimidade e aclamação. As homenagens sucedem-se desde então.Homenagens, louvores e reconhecimentos (lista parcial) Em 1994, o presidente português Mário Soares desvela um busto em homenagem a Aristides de Sousa Mendes, bem como uma placa comemorativa na Rua 14 quai Louis-XVIII, o endereço do consulado de Portugal em Bordéus em 1940.


Em 1995, é-lhe concedida, a título póstumo, uma das mais altas condecorações nacionais, a Grã-Cruz da Ordem de Cristo e a Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses (ASDP) cria um prémio anual com o seu nome.
Em Novembro de 1998 Aristides de Sousa Mendes é homenageado no Parlamento Europeu em Strasbourg e, em 2000, nas Nações Unidas, em New York.
Em 2004 comemorou-se o 50º aniversário da morte de Aristides de Sousa Mendes e foram celebradas missas e outras cerimónias religiosas e ecumémicas em honra ao seu Acto da Consciência em mais de 30 cidades em todos os continentes.
Em 2007, Aristides de Sousa Mendes foi o terceiro mais votado entre os Grandes Portugueses de todos os tempos num programa de televisão da RTP".  

Fonte: Fundação Aristides de sousa Mendes http://www.fundacaoaristidesdesousamendes.com/