Sei que
seria possível construir o mundo justo
As cidades
poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto
dos espaços e das fontes
O céu o mar
e a terra estão prontos
A saciar a
nossa fome do terrestre
A terra onde
estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a
cada um a liberdade e o reino
— Na concha
na flor no homem e no fruto
Se nada
adoecer a própria forma é justa
E no todo se
integra como palavra em verso
Sei que
seria possível construir a forma justa
De uma
cidade humana que fosse
Fiel à
perfeição do universo.
Por isso
recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu
ofício de poeta para a reconstrução do mundo.
Sophia de
Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
il. Eszter Schall