EB 2,3 Infante D. Fernando - Biblioteca

11/11/2010

Fernando Pessoa : um poeta de vários rostos

ODE
(Ricardo Reis)

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
(1933)


De " POEMAS INCONJUNTOS"
(Alberto Caeiro)

Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das coisas
O natural é o agradável só por ser natural .
Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno -
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar -
No facto sublimemente ciêntifico e difícil de aceitar o natural inevitável.(...)
(1917)


Da "ODE TRIUNFAL"
(Álvaro Campos)

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso! (...)
(1914)



EU SINTO COM O PENSAMENTO
(Bernardo Soares)

Aquilo que, creio, produz em mim o sentimento profundo em que vivo,
de incongruência com os outros, é que a maioria pensa com a sensibilidade,
e eu sinto com o pensamento.
Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver.
Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar